Há dois principais fatores que contribuem para a tendência de lançamentos de apartamento sem garagem em São Paulo. O primeiro deles foi a mudança aplicada no Plano Diretor São Paulo em 2014, lei que orienta o desenvolvimento da cidade e que, a partir dessa data, passou a desobrigar empreendimentos com garagem. Outro fator que contribui é o comportamento da população, que passou a priorizar apartamentos bem localizados, próximos à região central e com fácil acesso ao transporte público, abrindo mão também dos carros próprios.
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Imagem: Plataforma Gestão Urbana SP
Antes do lançamento do Plano Diretor São Paulo atual, que ocorreu em 2014, edifícios residenciais eram obrigados a oferecer uma vaga de garagem para apartamentos com até 200 metros quadrados. Aqueles entre 200 e 500 metros quadrados eram obrigados a contar com duas vagas; acima desse tamanho, três vagas. Atualmente, essa obrigatoriedade não existe mais.
O principal motivo foi otimizar o espaço, principalmente, ao longo das vias próximas ao transporte público. Considerando que essa é a região com mais procura, esse é um modo tanto de aumentar a demanda para os interessados, quanto de tornar os apartamentos mais acessíveis, uma vez que sem vagas de garagem, o metro quadrado se torna mais barato.
Essa é uma mudança que alcança tanto empreendimentos de médio e alto padrão, como empreendimentos populares que se encaixam, inclusive, em programas de financiamento do governo. Além disso, o plano de zoneamento de São Paulo também incentiva o uso misto desses edifícios, o que permite ao empreendimento muito mais versatilidade, que pode oferecer apartamentos pequenos, como estúdios de até 30 m², e opções de um ou dois dormitórios.
Desse modo, o Plano Diretor atual estabelece um número máximo de vagas e não mínimo. Assim, fica determinado o máximo de uma vaga por apartamento e uma vaga para cada 100m2 de área construída computável dos empreendimentos não residenciais. Ou seja, as vagas extras são passíveis de cobrança de outorga onerosa.
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Como dito no início deste artigo, o comportamento da população também influencia mudanças como esta. Em relação aos lançamentos de apartamento sem vaga de garagem em São Paulo, nota-se que as novas gerações estão cada vez menos interessadas em possuir carro próprio. Por sua vez, o sonho da casa própria se torna mais acessível com as opções de apartamentos sem garagem, uma vez que estes se tornam mais baratos, ou mesmo mais acessível para quem procura por apartamentos para alugar.
Além disso, as prioridades também mudaram. Em 2023 os jovens solteiros ou recém-casados dão mais valor a imóveis bem localizados, próximos a polos de trabalho, pontos de entretenimento, como bares e cinemas, e comércio no geral. Desse modo, os imóveis sem garagem também incentivam o uso dos transportes públicos, otimizando a mobilidade de forma mais sustentável, também por isso, esses lançamentos ocorrem próximos ao metrô.
No entanto, mesmo que o público da classe B resista ao metrô e ônibus, optar por carros de aplicativo e táxis ainda são alternativas mais sustentáveis do que um carro próprio, além de contribuírem para uma maior fluidez do trânsito. Além disso, podem influenciar a escolha de mios alternativos de locomoção, como patinetes elétricos e bicicletas, esta, além de sustentável para o planeta, ainda é uma escolha saudável.
Como uma forma de “compensar” a falta de garagem, os novos empreendimentos investem em áreas comuns no prédio, como piscina, quadras de esporte, salão de festa, academia e até mesmo modelos de lavanderia, como o formato pay-per-use. As lavanderias vêm, também, para suprir a necessidade de quem mora em apartamentos modelo estúdio, que não contam com área de serviço.
Para a cidade, os apartamentos sem garagem otimizam o aproveitamento do terreno, influenciam escolhas mais sustentáveis de mobilidade, diminuem o tráfego e, consequentemente, promovem melhor qualidade de vida para os moradores.
Para quem compra ou aluga um apartamento sem garagem, a maior vantagem é a financeira. Afinal, um apartamento sem garagem tem, em média, o metro quadrado 38% mais barato do que uma unidade com garagem. Essa diminuição de valor permite que as pessoas possam optar por apartamentos melhores localizados.
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O mercado automotivo também participa dessa mudança. Construtoras passaram a investir em carros mais equipados por diversos motivos, um deles é que tem se tornado cada vez mais caro produzir carros populares, mesmo com incentivos fiscais, ao passo que esses modelos têm cada vez menos aderência no mercado.
Desse modo, grandes construtoras diminuem suas linhas de carros populares ou carros de entrada, como também são chamados. Isso ocorre principalmente pelo público ser cada vez mais exigente. Ou seja, quem tem dinheiro opta pelos carros de linhas melhores e quem não tem dinheiro recorre aos usados, opta pelas locadoras de carro ou se dão por satisfeitos com os carros de aplicativos e táxis.
Mas o que isso tem a ver com a tendência de apartamento sem garagem? A resposta é que poder alugar um carro em uma locadora de veículos — seja por um período longo de mais de um ano ou para uma ocasião pontual, como uma viagem — deixou as pessoas muito mais confortáveis ao optarem por não terem um carro e, consequentemente, comprarem um imóvel sem garagem.
Além disso, a facilidade e a acessibilidade que os aplicativos de transporte trouxeram, até mesmo tornando os valores do serviço de táxi mais competitivos, também deram mais liberdade na hora de escolher ter ou não um carro próprio.
Afinal, sem essas opções no mercado, sem um carro, a única opção seria conseguir que um amigo emprestasse o próprio veículo ou pagar caro por uma corrida de táxi.
Outro ponto importante que permeia todas essas mudanças — em relação a imóveis e veículos — é que a prioridade das gerações mais recentes mudaram. A geração Baby Boomers e X priorizavam estabilidade e a posse de bens, enquanto as gerações Y e Z priorizam liberdade e flexibilidade, abrindo espaço para o mercado de locações do que antes era sinônimo de realização pessoal, possuir, como o imóvel e o veículo próprio.
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