Quais são os desafios do síndico no condomínio?

Ser síndico de um condomínio envolve muito mais do que simplesmente supervisionar as áreas comuns ou garantir que as regras sejam seguidas. O síndico é responsável por gerenciar um complexo ecossistema que inclui pessoas, finanças, infraestrutura e, muitas vezes, questões jurídicas.

De acordo com a advogada e mediadora de conflitos condominiais, Jisele Redondo Oliveira, o principal desafio inicial é a gestão das pessoas. "É lidar com esse universo, essa pluralidade de indivíduos, cada um com seu senso crítico, sua religião, seus costumes e sua criação. É um grupo muito diverso, então é preciso ter muito tato para gerenciar isso. Esse é o primeiro desafio."

A especialista na área condominial também aponta a gestão financeira como o segundo grande obstáculo, seguida pelo funcionamento geral do condomínio como o terceiro. "Administrar bem as finanças do condomínio é o segundo desafio. E o terceiro é fazer toda essa engrenagem funcionar, desde manutenções até assistências técnicas, exigindo também esse conhecimento. Não basta apenas conhecer as obrigações do síndico previstas no Código Civil. É necessário um conhecimento multidisciplinar para fazer o condomínio funcionar corretamente."

Veja abaixo, os principais desafios que um síndico enfrenta em seu dia a dia:

1. Gestão Financeira

A administração financeira é um dos maiores desafios para um síndico. Ele precisa garantir que as contas do condomínio estejam sempre em ordem, o que inclui:

• Cobrança de inadimplentes: O síndico deve lidar com moradores que não pagam a taxa de condomínio em dia, o que pode impactar a saúde financeira do condomínio.

• Orçamento e previsão de gastos: É necessário planejar cuidadosamente o orçamento anual, prevendo despesas fixas, como salários de funcionários, manutenções periódicas, e investimentos em melhorias.

•  Uso responsável dos recursos: O síndico deve evitar gastos desnecessários e priorizar obras e serviços que tragam benefícios para todos os moradores, equilibrando a qualidade e o custo.

2. Conciliação de Conflitos

Condomínios reúnem pessoas com estilos de vida e expectativas diferentes. O síndico, muitas vezes, se torna mediador em conflitos entre condôminos. Alguns exemplos de conflitos comuns são:

•  Barulho excessivo: Vizinhos incomodados com festas ou ruídos fora do horário permitido.
   
• Uso das áreas comuns: Divergências sobre o uso adequado de espaços como a piscina, o salão de festas ou o playground.
   
• Estacionamento e animais de estimação: Desentendimentos sobre vagas de estacionamento ou a presença de animais em áreas compartilhadas.

Ser capaz de mediar esses conflitos de forma imparcial, justa e seguindo o regimento interno do condomínio é essencial para garantir um ambiente harmonioso.

3. Manutenção e Conservação do Prédio

A estrutura física do condomínio precisa de manutenção constante, e o síndico é o responsável por supervisionar essa área. Isso inclui:

• Contratação de prestadores de serviço: O síndico precisa selecionar profissionais confiáveis para realizar manutenções, reparos e reformas, sempre buscando o melhor custo-benefício.
   
• Prevenção de problemas estruturais: Desde questões de infiltração até problemas elétricos, é necessário manter um cronograma de manutenções preventivas para evitar problemas maiores no futuro.
   
• Atualização de normas de segurança: As exigências de segurança, como extintores de incêndio, alarmes e saídas de emergência, precisam estar em dia para garantir a segurança dos moradores.

4. Gestão de Pessoas e Funcionários

O síndico também gerencia a equipe de funcionários do condomínio, como porteiros, zeladores, seguranças e pessoal de limpeza. Nesse sentido, os desafios incluem:

• Treinamento e supervisão: Garantir que os funcionários estejam treinados e cumpram suas funções de forma adequada.
   
• Conformidade com a legislação trabalhista: O síndico deve estar atento a direitos trabalhistas, escalas de trabalho e pagamento de salários, evitando problemas legais.
   
• Motivação e clima organizacional: A manutenção de um ambiente de trabalho agradável é crucial para o bom funcionamento do condomínio.

5. Cumprimento de Regras e Normas

Um dos papéis fundamentais do síndico é garantir o cumprimento das regras do condomínio, estabelecidas no regimento interno. Isso envolve:

• Aplicação de multas: Quando moradores violam as regras, como estacionar de forma incorreta ou realizar reformas fora do horário permitido, o síndico deve aplicar as penalidades previstas, o que pode gerar atritos.
   
• Atualização do regimento: O síndico pode precisar promover alterações nas regras do condomínio, adaptando-as a novas realidades ou demandas dos moradores.

6. Exigências Legais

Além de seguir o regimento interno, o síndico deve estar atento às legislações municipais, estaduais e federais que impactam o condomínio, como leis trabalhistas, normas de acessibilidade, legislações ambientais, entre outras. A complexidade dessas leis exige conhecimento e, em muitos casos, o apoio de assessoria jurídica.

7. Comunicação com os Moradores

A transparência e a boa comunicação são fatores cruciais para evitar desentendimentos e manter os moradores informados. O síndico precisa:

• Informar sobre gastos e decisões: A prestação de contas detalhada e a divulgação de decisões importantes, como obras ou mudanças nas regras, é essencial para manter a confiança dos condôminos.
   
• Organizar assembleias: As assembleias são um dos principais momentos de diálogo entre o síndico e os moradores. O síndico deve preparar as pautas, moderar as discussões e garantir que as decisões sejam cumpridas.

Conclusão

Ser síndico de um condomínio é uma função que exige habilidades múltiplas, como gestão financeira, liderança, comunicação e resolução de conflitos. Além disso, é preciso estar atualizado sobre normas legais e técnicas de manutenção predial. “Não basta só você saber das obrigações do síndico que está lá no Código Civil. Você precisa daquele conhecimento multidisciplinar para fazer o condomínio andar também”, declara Jisele Redondo.

Cada desafio pode impactar diretamente a convivência e a qualidade da vida dos moradores, tornando o papel do síndico essencial para o bom funcionamento de um condomínio.

Por isso, é fundamental que o síndico esteja preparado com o apoio de uma boa equipe e promova uma gestão transparente e colaborativa, sempre buscando o equilíbrio entre as necessidades individuais e coletivas.